30 de julho de 2020

A América do Sul é Azul - Parte 3


Faltam 156 dias para o Centenário

Em 1976 engatinhávamos em termos de tecnologia, telefonia era apenas a fixa e poucos tinham acesso ao serviço, era muito caro ter um telefone em casa, quem possuía era visto como rico e tinha que declarar no imposto de renda a posse da linha, objeto de desejo.
Da mesma forma era a televisão colorida, poucos possuíam e lá em casa, não tínhamos nem telefone nem TV colorida.

A Libertadores é nossa!

Porém, no dia 29 de julho na parte da tarde, tocaram campainha na porta da minha casa e quando fui atender, era o pessoal  do Hipermercado Jumbo e estavam entregando uma TV para nós, ficamos sem entender e quando minha mãe foi chegando para ver do que se tratava, o entregador falou que a compra havia sido feita pelo meu pai e era uma televisão colorida, quase não acreditei, será que havíamos ficados ricos? 
Claro que não, meu pai havia comprado a TV no carnê, trinta e seis pagamentos, que tempinho difícil!

Mas o que isso tem a ver com um blog que se propõe a falar do Cruzeiro?
Tem tudo a ver, pois era véspera da terceira e decisiva partida da Libertadores e eu ia poder assistir ao jogo em uma televisão colorida.

Companheiro é companheiro, abri mão de assistir ao jogo em uma tv de “última geração”, tratava-se de uma Telefunken Pal Color com controles deslizantes  e fui para casa dos meus avós, afinal Luizinho Clemente estava lá. Meu pai ficou sem entender, mas eu sabia que era o certo a fazer, meu avô também me perguntou porque havia tomado aquela decisão e eu disse que éramos cruzeirenses e que seríamos campões juntos.
Telefunken Pal Color

Fomos para o jogo, meu avô tentava disfarçar o nervosismo, eu era só otimismo.
O Estádio Nacional de Santiago recebeu mais de 40.000 mil torcedores e a maioria torcia para nós, entramos em campo carregando uma bandeira do Chile e saudamos a torcida, com certeza isso nos favoreceu.

O jogo foi uma guerra, o River apelando para as faltas desleais. Estávamos desfalcados de Jairzinho que havia sido expulso no jogo da Argentina, felizmente o substituto dele Ronaldo Drummond foi um dos grandes nomes da partida, tendo participação ativa nos três gols do nosso triunfo.
Aos 24 minutos do primeiro tempo, Ronaldo divide com a zaga argentina, a bola toca na mão do defensor, pênalti, Nelinho marca 1 a 0. O jogo continuou disputado, bem pegado e assim chegamos ao final do primeiro tempo.
Voltamos para o segundo tempo, faltavam mais 45 minutos, era segurar o resultado e pegar a taça!
Logo aos 10 minutos, numa roubada de bola, Zé Carlos tabelou com Ronaldo, que deu assistência para Eduardo marcar o segundo gol 2 a 0, eu era só alegria, vibrando muito e meu avô ali, segurando a emoção.

O título agora era questão de tempo, porém, aos 13 minutos, em um lance de pura compensação, o juiz marca pênalti quando Luque caiu na área, Oscar Más converte, 2 a 1.
Após o gol do River o jogo começou a ficar violento, pancadaria dos dois lados, aos 17 minutos em uma falta para o River, nós nos descuidamos e eles bateram a falta rapidamente, e Urquisa chutou cruzado para empatar. Nesse momento tive uma crise de choro, choro de medo, de desespero em ver um placar que era amplamente favorável, em três minutos se tornar um pesadelo, meu avô ficou muito nervoso nessa hora, pediu a minha Tia Nilda que felizmente ainda está conosco, me trazer água com açúcar, porque do contrário, eu e ele iríamos morrer do coração.   

Passado esse momento de emoções afloradas voltamos ao jogo, a cada minuto aumentava nossa apreensão, quarenta e dois minutos Ronaldo sofre falta próxima a entrada da área, já eram quarenta e três minutos,  Nelinho se prepara para bater, nesse instante surge Joãozinho nosso ponta esquerda e bate de perna direita, com sutileza no ângulo direito do goleiro Landaburu, que nada pôde fazer.
Ouça Aqui
Era o gol da nossa redenção, o gol do título. Eu fiquei louco de alegria, comecei a pular, gritar, minha avó estava no quarto e veio até a sala para ver o que estava acontecendo, ficou assustada com tanto barulho.
No rosto do meu avô um sorriso misturado com a vontade de chorar, mas ele conteve a emoção. 
Cruzeiro Campeão da Libertadores, a América do Sul era Azul!
  

No dia seguinte já em casa, meu pai me contou que embora nossa tv fosse colorida, o jogo foi em preto e branco, a geração foi da TV chilena e naquele tempo eles ainda não tinham o recurso de gerar imagens em colorido.

Cruzeiro Sempre!    
Piazza nosso eterno capitão.
Foto:Estado de Minas

Recordar é Viver
Há 44 anos atrás, no dia 30/07/76 - Terceira Partida da final da Copa Libertadores das Américas - Estádio Nacional - Santiago do Chile
Público 40. 000 Presentes 
Cruzeiro 3 x 2 River Plate
Arbitragem: Alberto Martínez CHI, José Martínez Bazán URU e César Orozco PER
Cruzeiro: Raul, Nelinho, Morais, Darci e Vanderlei; Piazza (Valdo), Eduardo (Ronaldo) e Zé Carlos; Ronaldo, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira     
River Plate: Landaburu, Comelles, Lonardi, Ártico e Urquisa; Sabella, Merlo e Norberto Alonso; González, Luque e Oscar Más(Crespo). Técnico: Ângel Labruna.
Cartões Vermelhos: Cruzeiro - Ronaldo; River Plate - Norberto Alonso
Gols: Cruzeiro: Nelinho pênalti 24’ 1º T, Eduardo 10’ 2º T e Joãozinho 43’ 2ºT
          River Plate: Oscar Más pênalti 13 minutos do 2º T e Urquisa 17’ 2º T

Fonte: Livro: Rei de Copas - Alexandre Simões;
Almanaque do Cruzeiro - Alexandre Ribeiro e cruzeiropedia.org

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