Faltam 156 dias para o Centenário
Em 1976 engatinhávamos em termos de tecnologia, telefonia era
apenas a fixa e poucos tinham acesso ao serviço, era muito caro ter um telefone
em casa, quem possuía era visto como rico e tinha que declarar no imposto de renda
a posse da linha, objeto de desejo.
Da mesma forma era a televisão colorida, poucos possuíam e lá
em casa, não tínhamos nem telefone nem TV colorida.
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| A Libertadores é nossa! |
Porém, no dia 29 de julho na parte da tarde, tocaram
campainha na porta da minha casa e quando fui atender, era o pessoal do Hipermercado Jumbo e estavam entregando uma
TV para nós, ficamos sem entender e quando minha mãe foi chegando para ver do
que se tratava, o entregador falou que a compra havia sido feita pelo meu pai e
era uma televisão colorida, quase não acreditei, será que havíamos ficados
ricos?
Claro que não, meu pai havia comprado a TV no carnê, trinta e
seis pagamentos, que tempinho difícil!
Mas o que isso tem a ver com um blog que se propõe a falar do
Cruzeiro?
Tem tudo a ver, pois era véspera da terceira e decisiva partida
da Libertadores e eu ia poder assistir ao jogo em uma televisão colorida.
Companheiro é companheiro, abri mão de assistir ao
jogo em uma tv de “última geração”, tratava-se de uma Telefunken Pal Color com controles deslizantes e fui para casa dos meus avós, afinal
Luizinho Clemente estava lá. Meu pai ficou sem entender, mas eu sabia que era o
certo a fazer, meu avô também me perguntou porque havia tomado aquela decisão e
eu disse que éramos cruzeirenses e que seríamos campões juntos.
Fomos para o jogo, meu avô tentava disfarçar o nervosismo, eu
era só otimismo.
O Estádio Nacional de Santiago recebeu mais de 40.000 mil
torcedores e a maioria torcia para nós, entramos em campo carregando uma
bandeira do Chile e saudamos a torcida, com certeza isso nos favoreceu.
O jogo foi uma guerra, o River apelando para as faltas
desleais. Estávamos desfalcados de Jairzinho que havia sido expulso no jogo da
Argentina, felizmente o substituto dele Ronaldo Drummond foi um dos grandes
nomes da partida, tendo participação ativa nos três gols do nosso triunfo.
Aos 24 minutos do primeiro tempo, Ronaldo divide com a zaga argentina,
a bola toca na mão do defensor, pênalti, Nelinho marca 1 a 0. O jogo continuou
disputado, bem pegado e assim chegamos ao final do primeiro tempo.
Voltamos para o segundo tempo, faltavam mais 45 minutos, era
segurar o resultado e pegar a taça!
Logo aos 10 minutos, numa roubada de bola, Zé Carlos tabelou
com Ronaldo, que deu assistência para Eduardo marcar o segundo gol 2 a 0, eu
era só alegria, vibrando muito e meu avô ali, segurando a emoção.
O título agora era questão de tempo, porém, aos 13 minutos,
em um lance de pura compensação, o juiz marca pênalti quando Luque caiu na
área, Oscar Más converte, 2 a 1.
Após o gol do River o jogo começou a ficar violento,
pancadaria dos dois lados, aos 17 minutos em uma falta para o River, nós nos
descuidamos e eles bateram a falta rapidamente, e Urquisa chutou cruzado para
empatar. Nesse momento tive uma crise de choro, choro de medo, de desespero em
ver um placar que era amplamente favorável, em três minutos se tornar um
pesadelo, meu avô ficou muito nervoso nessa hora, pediu a minha Tia Nilda que felizmente
ainda está conosco, me trazer água com açúcar, porque do contrário, eu e ele
iríamos morrer do coração.
Passado esse momento de emoções afloradas voltamos ao jogo, a
cada minuto aumentava nossa apreensão, quarenta e dois minutos Ronaldo sofre
falta próxima a entrada da área, já eram quarenta e três minutos, Nelinho se prepara para bater, nesse instante
surge Joãozinho nosso ponta esquerda e bate de perna direita, com sutileza no
ângulo direito do goleiro Landaburu, que nada pôde fazer.
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| Ouça Aqui |
Era o gol da nossa redenção, o gol do título. Eu fiquei louco
de alegria, comecei a pular, gritar, minha avó estava no quarto e veio até a
sala para ver o que estava acontecendo, ficou assustada com tanto barulho.
No rosto do meu avô um sorriso misturado com a vontade de chorar, mas ele conteve a emoção.
Cruzeiro Campeão da Libertadores, a América do Sul era Azul!
No rosto do meu avô um sorriso misturado com a vontade de chorar, mas ele conteve a emoção.
Cruzeiro Campeão da Libertadores, a América do Sul era Azul!
No dia seguinte já em casa, meu pai me contou que embora
nossa tv fosse colorida, o jogo foi em preto e branco, a geração foi da TV
chilena e naquele tempo eles ainda não tinham o recurso de gerar imagens em
colorido.
Recordar é Viver
Há 44 anos atrás, no
dia 30/07/76 - Terceira Partida da final da Copa Libertadores das Américas -
Estádio Nacional - Santiago do Chile
Público 40. 000
Presentes
Cruzeiro 3 x 2 River
Plate
Arbitragem: Alberto
Martínez CHI, José Martínez Bazán URU e César Orozco PER
Cruzeiro: Raul,
Nelinho, Morais, Darci e Vanderlei; Piazza (Valdo), Eduardo (Ronaldo) e Zé
Carlos; Ronaldo, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira
River Plate: Landaburu,
Comelles, Lonardi, Ártico e Urquisa; Sabella, Merlo e Norberto Alonso;
González, Luque e Oscar Más(Crespo). Técnico: Ângel Labruna.
Cartões Vermelhos: Cruzeiro
- Ronaldo; River Plate - Norberto Alonso
Gols: Cruzeiro: Nelinho
pênalti 24’ 1º T, Eduardo 10’ 2º T e Joãozinho 43’ 2ºT
River Plate: Oscar Más pênalti 13
minutos do 2º T e Urquisa 17’ 2º T
Fonte: Livro: Rei de
Copas - Alexandre Simões;
Almanaque do
Cruzeiro - Alexandre Ribeiro e cruzeiropedia.org




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