21 de julho de 2020

A América do Sul é Azul - Parte 1


Faltam 165 Dias para o Centenário

Vamos voltar no tempo, mais precisamente em 1976. Eu tinha dez para onze anos de idade e  absurdamente apaixonado pelo Cruzeiro. Não que eu tenha deixa de ser, pois esse fogo não se apaga, mas com o passar dos anos ele  é domado pela própria vida e suas prioridades.

Estávamos classificados para a nossa terceira Copa Libertadores da América, embora o passaporte não tenha sido emitido como gostaríamos, uma vez que perdemos a decisão do campeonato Brasileiro de 1975 para o Internacional-RS, que na verdade tinha também um grande time, mas no lance do gol do título, só o juiz viu a falta do Piazza no jogador colorado, o vice-campeonato teve um gosto amargoso, que até hoje me incomoda quando lembro.
Cruzeiro 4 x 1 River Plate - 21/07/76
imortaisdofutebol.com

Até aquela data, apenas o Santos havia sido campeão da Libertadores, fato conseguido duas vezes consecutivas nos anos de 1962 e 1963, comandados por Pelé e companhia. 
No Brasil tínhamos à época grandes times, mas que eram literalmente sugados pelas arbitragens tendenciosas, pelos estádios acanhados, pela pressão da torcida e principalmente pelo doping dos jogadores adversários, beneficiados por um regulamento que não exigia o exame antidoping após os jogos. Todos esses fatores, faziam com que os times brasileiros não dessem valor à competição, fato que era inversamente encarado principalmente pelos argentinos, o que justifica inclusive a diferença no número de títulos conquistados pelos dois países.

Naquele tempo a Libertadores era disputada apenas pelo campeão e vice do campeonato nacional de cada país, que ficavam no mesmo  grupo na fase de classificação e apenas o primeiro colocado do grupo seguia na competição. Na fase de grupos enfrentamos o Internacional-RS, Sportivo Luqueño e Olímpia.

Estreamos no dia 07/03/76 no Mineirão contra o Internacional. Este jogo é considerado o maior jogo que o estádio já recebeu. Vencemos por 5 a 4 com um jogador a menos, uma vez que Palhinha foi expulso. Os gols do Cruzeiro foram marcados por: Palhinha 2, Joãozinho 2 e Nelinho, enquanto para o Internacional marcaram: Lula, Valdomiro, Zé Carlos (contra) e Ramon. Naquela tarde de domingo o público foi de 65.463 presentes.   
Eu e Luizinho Clemente ouvimos o jogo pela Rádio Inconfidência, na voz do narrador Jairo Anatólio Lima.    
A vitória deu confiança ao grupo e de certa forma vingou a derrota para o Internacional na final do ano anterior. 

Partimos para a segunda partida no dia 14/03/76 no Paraguai, estádio Defensores Del Chaco, diante de 25.000 expectadores e de virada vencemos o Sportivo Luqueño por 3 a 1, marcando Sandoval para os paraguaios, enquanto Roberto Batata, Nelinho e Joãozinho fizeram a nossa alegria.
Permanecemos no Paraguai e no dia 18/03/76, enfrentamos o Olímpia, diante de 35.000 presentes, saímos atrás do placar levando dois gols ainda no primeiro tempo,  marcados por Díaz e Torres.

Voltamos determinados a buscar o resultado e mesmo com um homem a menos (Roberto Batata foi expulso), chegamos ao empate, Joãozinho e Darci Menezes garantiram o resultado final de 2 a 2.
Nos primeiros três jogos fizemos o dever de casa, garantindo a liderança do grupo com 7 pontos ( a vitória valia 2 pontos) e partimos para os jogos da volta, lembrando que faríamos dois jogos em casa.
No dia 24/03/76 recebemos o Sportivo Luqueño no Mineirão e não demos oportunidade aos paraguaios, goleamos por 4 a 1 e os 33.228 cruzeirenses presentes viram Palhinha duas vezes, Eduardo e Jairzinho marcarem nossos gols, enquanto Nicholichia anotou o gol de honra dos paraguaios.

A vitória nos deu tranquilidade para o próximo jogo, que seria contra o Internacional no Beira-Rio, para os gaúchos apenas a vitória interessava, qualquer resultado diferente os deixaria eliminados da competição. 
No dia 28/03/76 enfrentamos um Beira-Rio com mais de 80.000 presentes e aqueles colorados presenciaram o pagamento da nossa derrota na final do Campeonato Brasileiro de 1975, foi com juros e correção monetária, Internacional 0 x 2 Cruzeiro, gols de Jairzinho e Joãozinho. A classificação para a semifinal estava garantida.

Para cumprir tabela, no dia 04/04/76 recebemos o Olímpia no Mineirão, para um público de mais de 42.000 presentes e  de virada, goleamos os paraguaios por 4 a 1, gols de Talavera para o Olímpia, enquanto Jairzinho duas vezes, Nelinho e Eduardo marcaram para o Cruzeiro.
Abrimos a semifinal contra a LDU em Quito no Equador, no dia 09/05/76 diante de um público de 50.000 presentes e vencemos por 3 a1, gols de Palhinha 2 e Joãozinho, enquanto Polo Carrera marcou para a LDU.  

O próximo adversário na semifinal foi o Alianza Lima do Peru, (os jogos contra o Alianza tiveram um destaque especial aqui no blog, textos publicados  em 12 e 20 de maio de 2020), no dia 12/05/76, goleamos os peruanos em Lima por 4 a 0, gols de Roberto Batata, Joãozinho 2 e Jairzinho.
Nos jogos de volta no Brasil jogaríamos por dois empates para garantir a vaga na decisão.

No dia 13/05/76 aconteceu o trágico acidente com Roberto Batata, que culminou com o seu falecimento. (Texto publicado no blog no mês de maio/20).
Fizemos o jogo da volta contra o Alianza Lima no dia 20/05/76, os 28.235 presentes ao estádio e eu estava lá, presenciaram um massacre azul, Cruzeiro 7 a 1, marcando Jairzinho 4 e Palhinha 3 para o Cruzeiro, enquanto Cueto anotou o gol peruano. Passaporte carimbado para a final, o jogo contra a LDU era apenas para cumprir tabela.

Nelinho abraça Jairzinho, Ronaldo comemora com
Joãozinho a goleada sobre o River Plate.
Foto:estadiomineirao.com.br
E assim fizemos, cumprimos tabela contra LDU no dia 30 de maio de 1976, diante de 26.078 presentes, goleamos mais uma vez 4 a 1 placar final, marcando Nelinho, Jairzinho, Palhinha e Ronaldo, para o Cruzeiro, já o gol da LDU foi marcado por Gustavo Tápia.      
Agora chegava a hora da verdade, enfrentaríamos o River Plate, que também buscava seu primeiro título na competição, um time muito bom tecnicamente e que tinha em seu elenco grandes jogadores, que dois anos depois viriam a ser campeões mundiais pela seleção da Argentina na Copa do Mundo de 1978. 

No dia 21 de julho de 1976, recebemos no Mineirão o River Plate para a primeira partida da decisão, diante de 58.720 presentes, demos as nossas boas vindas aos “milionários” e já no primeiro tempo vencíamos por 3 a 0, no resultado final goleamos por 4 a 1, com gols de Nelinho, Palhinha 2 e Valdo, Oscar Más de pênalti, descontou para os argentinos. 
O jogo não teve transmissão para Belo Horizonte e eu ouvi no radinho a transmissão do jogo, fazia frio em BH e  o coração batia mais forte debaixo das cobertas.

Cruzeiro Sempre! 

Recordar é Viver!
Há 44 anos atrás, no dia 21/07/76 - Primeira Partida da final da Copa Libertadores das Américas - Mineirão - Público 58. 720 Presentes  
Cruzeiro 4 x 1 River Plate
Arbitragem: Vicente Llobregat VEN, Roque Cerullo URU e Edison Pérez PER   
Cruzeiro: Raul, Nelinho, Morais, Darci e Vanderlei; Piazza(Valdo), Eduardo (Ronaldo) e Zé Carlos; Jairzinho, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira
River Plate: Fillol(Landaburu),Comelles, Perfumo, Lonardi e Hector Lopez; J.J.Lopez; Merlo e Sabella; González, Luque e Oscar Más. Técnico: Ângel Labruna.
Gols: Cruzeiro: Nelinho 21’ 1º T, Palhinha 29’ e 40’ 1º T e Valdo 35’ 2º T
          River Plate: Oscar Más de pênalti aos 18’ 2º T

Fonte: Livro: Rei de Copas - Alexandre Simões  e Almanaque do Cruzeiro – Alexandre Ribeiro   

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